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Por que a sede do Parque Pedra do Sol fica na Serra do Cipó?
Além do valor arqueológico e arqueoastronômico, o Parque Arqueológico da Pedra do Sol desempenha um papel crucial na educação ambiental com a missão de conscientizar a comunidade sobre a importância da preservação desse ecossistema tão singular.
O cerrado de campo rupestre é reconhecido não só pela rica herança cultural, mas também pela função vital na retenção e na distribuição da água doce potável no país — sendo indispensável para a sustentabilidade hídrica de diversas regiões.
Vídeo aéreo mostrando a sede do Parque Pedra do Sol na Serra do Cipó em Minas Gerais por Daniel Carlos Botrel.

Biodiversidade do cerrado mineiro
O cerrado desempenha um papel crucial como um dos biomas responsáveis pela retenção e armazenamento de água no país, sendo amplamente reconhecido como a “caixa d’água” do Brasil: essencial para o abastecimento de muitas regiões.
As plantas adaptadas às condições de grandes altitudes nos campos rupestres — muitas exclusivas deste bioma — desempenham um papel fundamental na captação e condução de água para os lençóis freáticos.

Foto da sede do Parque Arqueológico da Pedra do Sol na Serra do Cipó, em Minas Gerais.

A flora afeta diretamente a recarga subterrânea, garantindo a continuidade do fluxo de água e abastecendo regiões inteiras.
Devido à falta de incentivo governamental, ao desmatamento causado por setores econômicos inconsequentes, e à vastidão do território, o cerrado ainda guarda muitos mistérios no campo das ciências biológicas.
Esse cenário torna a região um ambiente fértil para pesquisadores que buscam desenvolver carreiras por meio de investigações científicas, ao mesmo tempo em que a preservação desse ecossistema se torna cada vez mais urgente.

Foto dos campos de altitude no Parque Pedra do Sol com a exuberante cachoeira da Capivara ao fundo.

Os campos rupestres de altitude
O Parque Pedra do Sol tem um papel crucial na preservação das espécies nativas do Cerrado — um bioma que se destaca pela rica diversidade e incrível resiliência.
Com 15 hectares preservados, o Parque Pedra do Sol se torna um refúgio vital para diversas espécies ameaçadas pela mudança climática e os incêndios criminosos.
As plantas que existem no parque compõe um bioma único de campo rupestre, com flora e fauna endêmicas que só existem acima de 900 metros de altitude — característica que fez com que Roberto Burle Marx apelidasse esta área como o “Jardim do Brasil”.
Entre as plantas que encontram abrigo no parque, têm destaque:
- Sempre-viva (Actinocephalus), planta ornamental com inflorescência típica dos cerrados de campo rupestre na Serra do Espinhaço;
- Arnica-mineira (Lychnophora pinaster), planta medicinal de aspecto arbustivo, conhecida pelas folhas alongadas e com florações roxas características;
- Canela-de-ema (Vellozia spp.), planta marcada pelo caule retorcido, além de flores roxas ou azuladas que surgem em meio às folhas e pontiagudas;
- Além uma infinidade de espécies registradas de flores, ervas, arbustos e árvores, que formam um complexo mosaico da evolução da vida nessa região.



Fotos das plantas endêmicas do cerrado mineiro (da primeira à última): sempre-viva por João de Deus Medeiros, arnica-mineira, e canela-de-ema por Júlio Code.

Fauna do cerrado mineiro
A fauna do cerrado de Minas Gerais é uma das mais ricas do Brasil graças à enorme variedade de habitats presentes na região.
Cheio de savanas, campos e florestas, o Cerrado cria as condições ideais para o desenvolvimento de inúmeras espécies de animais adaptadas às condições extremas de longas estações secas e altas temperaturas.
É por isso que uma das principais atividades do Parque Pedra do Sol é a observação de aves.
Entre as espécies mais representativas da fauna mineira, podemos destacar:
- Carcará (Caracara plancus), ave de rapina conhecida pela habilidade de consumir tanto presas vivas quanto carniças;
- Veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus), mamífero brasileiro em risco de extinção, encontrado em campos abertos;
- Tucano-toco (Ramphastos toco), famoso pelo grande bico colorido, sendo uma das aves mais emblemáticas do Cerrado;
- Águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus), ave de rapina dominante nas montanhas do Chile que também caça e faz ninho no Cerrado;
- Onça-parda (Puma concolor), felino nativo das Américas e em risco devido à perda de habitat;
- Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), espécie solitária e de longa pelagem, está ameaçada pela perda de habitat e a caça ilegal;
- Sapo-pedra (Rhinella schneideri), conhecido pela camuflagem impressionante, imitando a textura das pedras para se esconder dos predadores;
- Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), com uma dieta especializada em formigas e cupins, equilibrando a população desses insetos.
Esse bioma se apresenta não apenas como um centro de biodiversidade, mas também como um campo fértil para projetos científicos, com novas espécies e interações ecológicas esperando por pesquisadores apaixonados para serem mapeadas.


Fotos de animais encontrados no cerrado mineiro: carcará (Caracara plancus) e sapo-flecha (Ameerega flavopicta).

Arqueologia na Serra do Cipó
O município de Santana do Riacho possui mais de 50 sítios arqueológicos, muitos deles no Parque Nacional da Serra do Cipó e nas áreas de altitude da Área de Preservação Ambiental (APA) Morro da Pedreira, onde encontra-se o Parque Pedra do Sol.
Durante os levantamentos de campo, nossa equipe localizou ao menos 20 sítios em áreas de altitude no Vau da Lagoa.
A Serra do Cipó guarda as datações de ocupação humana mais antigas das Américas, com cerca de 12 mil anos de história.

Reconstituição do modo de confecção dos têxteis encontrados no Grande Abrigo de Santana do Riacho. Fonte: Arquivos do MHNJB/UFMG – Vol 12.

O sítio arqueológico mais estudado do município é o Grande Abrigo de Santana do Riacho, que foi escavado pela missão franco-brasileira entre 1976 e 1979. Este sítio está localizado a apenas 12 quilômetros em linha reta do Parque Pedra do Sol.
O Grande Abrigo é um abrigo rochoso com mais de 100 metros de extensão e por volta de 2.500 pinturas rupestres distribuídas em 13 painéis.
Durante as pesquisas foram encontrados 40 indivíduos sepultados, com datações de até 9 mil anos. Outro achado significativo foram vestígios de grãos de milho de aproximadamente 2.800 anos.
Esses dados sugerem o possível cultivo em uma cronologia anterior ao período geralmente aceito para a domesticação desse vegetal no Brasil Central.

Ilustrações mostrando um possível brinquedo encontrado no Grande Abrigo de Santa do Riacho. Fonte: Arquivos do MHNJB/UFMG – Vol 12.

As pesquisas no Grande Abrigo localizaram inúmeros artefatos, como:
- Algumas cerâmicas;
- Instrumentos de ossos;
- Contas de colares de sementes;
- Vestígios da alimentação vegetal e animal;
- Fragmentos de artefatos de pedra lascada e polida;
- Além dos fragmentos têxteis mais antigos registrados no Brasil, localizados em contexto ritual e datados entre 8 mil e 10 mil anos atrás.

Ilustração reconstituindo um vasilhame de esteatita polida. Fonte: Arquivos do MHNJB/UFMG – Vol 12.

A Serra do Cipó é um verdadeiro museu a céu aberto, repleto de abrigos rochosos decorados com pinturas rupestres em tons de vermelho, amarelo e preto, retratando formas de animais chamadas pelos arqueólogos de estilo Planalto.
A Lapa da Sucupira se destaca entre elas, já que apresenta grafismos diferentes em relação aos comumente encontrados na região.
Os desenhos incluem os “bonecões” do estilo Agreste, levantando a hipótese de contato entre grupos de matrizes culturais diferentes, ou até a ocupação da região por populações distintas ao longo dos milênios.

Foto de pinturas rupestres representando a influência do estilo Agreste na Lapa da Sucupira.

A ocupação humana na Serra do Cipó foi possível sobretudo pela abundância de água, exemplificada pela beleza cênica das mais de 200 cachoeiras na região, com cursos d’água perenes e navegáveis — como os do Rio Cipó e Parauninha.
Os primeiros grupos caçadores-coletores da região mapearam o cerrado mineiro e entendiam a dinâmica da natureza:
- Era comum a coleta de coquinhos de licuri, patauá e sementes de jatobá;
- E a caça abundante incluía tatus e veados, conforme os vestígios localizados no Grande Abrigo de Santana do Riacho.

Desenhos mostrando os batedores líticos usados para a confecção de instrumentos de pedra lascada localizados no Grande Abrigo de Santana do Riacho. Fonte: Arquivos do MHNJB/UFMG – Vol 12.

As pedreiras do Espinhaço forneciam cristais de quartzo hialino, amplamente utilizados no lascamento e na confecção de instrumentos, como pontas de projéteis.
Também era comum a obtenção de materiais de regiões mais distantes, como o sílex — uma matéria prima de ótima qualidade que provavelmente era adquirida por meio de trocas com outros grupos.
A importância de preservar e estudar esses locais vai além da simples conservação de artefatos e pinturas.
Cada sítio arqueológico no município representa uma oportunidade única de explorar as raízes da ocupação humana no Cerrado e entender as relações entre o ser humano e o ambiente ao longo dos milênios.

Foto do Grande Abrigo de Santana do Riacho, o sítio arqueológico mais estudado da Serra do Cipó.

Detalhes do Parque Arqueológico da Pedra do Sol
- Localização: Vau da Lagoa, Santana do Riacho – Minas Gerais, Brasil;
- Coordenadas: 19° 14′ 12.90” S – 43° 36′ 01.04” O;
- Unidade de Conservação: APA Morro da Pedreira;
- Classificação de Proteção: Zona Rural do Cerrado;
- Clima Predominante: Tropical de Altitude;
- Geologia: Supergrupo Espinhaço;
- Área Atual: 15 hectares;
- Bioma: Campo Rupestre;
- Altitude: 1.170 metros;
- Hidrografia: Córrego da Samambaia, bacia do rio Parauninha;
- Bem Cultural: Sítios arqueológicos pré-coloniais com pinturas rupestres;
- Bem Natural: Mata ciliar do córrego Mãe d’Água em ambiente de campo rupestre.

Foto aérea da sede do Parque Pedra do Sol por Daniel Carlos Botrel.
