A Gruta do Seichú ilumina as conexões dos povos originários com as estrelas

Inserido no perímetro do Parque Pedra do Sol e a cem metros do Córrego Mãe D’água, fica o afloramento rochoso com dois painéis de pinturas rupestres monocrômicas batizado de Gruta do Seichú.

O nome deste sítio vem de um grafismo rupestre no interior do abrigo representando o aglomerado estelar M-45 — as Plêiades — conhecido como Seichú pelos povos falantes de tupi.

Além de ilustrar as Plêiades, que é um dos asterismos mais marcantes do céu noturno, os painéis encontrados neste abrigo também fazem a associação tradicional entre o veado e o peixe — característica do estilo Planalto de pintura rupestre, espalhado por boa parte do centro-sul de Minas Gerais.

Há indícios de que no interior deste sítio arqueológico exista uma gruta, cuja entrada foi fechada por ação natural ou humana.

A importância do Seichú para os nativos de Pindorama

O agrupamento estelar do Seichú (ou Plêiades, como esse grupo é conhecido atualmente) sempre foi fundamental para demarcar as estações do ano em Pindorama — a Terra das Palmeiras, como o Brasil era chamado pelos nativos antes da invasão europeia.

Entre novembro e março, o aglomerado M-45 aparece brilhante no início da noite, indicando o período das chuvas na Serra do Cipó.

No inventário cosmológico da tradição tupi-guarani, as Plêiades formam o topo do cocar da constelação de Tuivaé — o Homem Velho.

O registro escrito mais antigo dessa constelação data de 1614 e foi feito pelo monge francês Claude D’Abbeville no litoral do Maranhão. Só que a observação de Tuivaé certamente vem de milênios antes, já que esse padrão estelar era conhecido por grande parte dos povos indígenas do Brasil naquela época.

Sentados sob a lapa nas noites estreladas, os astrônomos do passado observaram o ocaso do aglomerado M-45 no horizonte à frente do painel, registrando as 16 estrelas visíveis na época, muito antes do advento da poluição luminosa.

Hoje conseguimos ver apenas sete estrelas das Plêiades a olho nu no sítio arqueológico, devido ao brilho da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A experiência de olhar para o céu a partir da Gruta do Seichú ainda desperta uma fortíssima conexão com os ancestrais da Serra do Cipó — os antepassados de toda pessoa brasileira.