A Gruta do Seichú ilumina as conexões dos povos originários com as estrelas
Inserido no perímetro do Parque Pedra do Sol e a cem metros do Córrego Mãe D’água, fica o afloramento rochoso com dois painéis de pinturas rupestres monocrômicas batizado de Gruta do Seichú.
Vídeo aéreo mostrando o sítio arqueológico Gruta do Seichú com a sede do Parque Pedra do Sol ao fundo por Daniel Carlos Botrel.

O nome deste sítio vem de um grafismo rupestre no interior do abrigo representando o aglomerado estelar M-45 — as Plêiades — conhecido como Seichú pelos povos falantes de tupi.



Foto aérea do sítio arqueológico Gruta do Seichú na Serra do Cipó (primeira e terceira) com a sede do Parque Pedra do Sol ao fundo (segunda) por Daniel Carlos Botrel.

Além de ilustrar as Plêiades, que é um dos asterismos mais marcantes do céu noturno, os painéis encontrados neste abrigo também fazem a associação tradicional entre o veado e o peixe — característica do estilo Planalto de pintura rupestre, espalhado por boa parte do centro-sul de Minas Gerais.
Há indícios de que no interior deste sítio arqueológico exista uma gruta, cuja entrada foi fechada por ação natural ou humana.




Fotos das pinturas rupestres (primeira) mostrando as estrelas do Seichú (quarta), zoomorfos (segunda), e as mãos dos nossos antepassados nativo-brasileiros (terceira).

A importância do Seichú para os nativos de Pindorama
O agrupamento estelar do Seichú (ou Plêiades, como esse grupo é conhecido atualmente) sempre foi fundamental para demarcar as estações do ano em Pindorama — a Terra das Palmeiras, como o Brasil era chamado pelos nativos antes da invasão europeia.
Entre novembro e março, o aglomerado M-45 aparece brilhante no início da noite, indicando o período das chuvas na Serra do Cipó.

Imagens mostrando a semelhança entre como os povos originários de diversas partes do planeta registraram as Plêiades nas artes rupestres.

No inventário cosmológico da tradição tupi-guarani, as Plêiades formam o topo do cocar da constelação de Tuivaé — o Homem Velho.
O registro escrito mais antigo dessa constelação data de 1614 e foi feito pelo monge francês Claude D’Abbeville no litoral do Maranhão. Só que a observação de Tuivaé certamente vem de milênios antes, já que esse padrão estelar era conhecido por grande parte dos povos indígenas do Brasil naquela época.

Ilustração da exposição Cultura Estelar Tupi-guarani representando a constelação Tuivaé ou Homem Velho.

Sentados sob a lapa nas noites estreladas, os astrônomos do passado observaram o ocaso do aglomerado M-45 no horizonte à frente do painel, registrando as 16 estrelas visíveis na época, muito antes do advento da poluição luminosa.
Hoje conseguimos ver apenas sete estrelas das Plêiades a olho nu no sítio arqueológico, devido ao brilho da Região Metropolitana de Belo Horizonte.


Foto da pintura rupestre que nomeia a Gruta do Seichú ao lado de uma imagem das Plêiades (segunda) e foto do abrigo à noite (primeira), um dos vários sítios arqueológicos no Parque Pedra do Sol.

A experiência de olhar para o céu a partir da Gruta do Seichú ainda desperta uma fortíssima conexão com os ancestrais da Serra do Cipó — os antepassados de toda pessoa brasileira.