O que é o Parque Arqueológico da Pedra do Sol?

O Parque Arqueológico da Pedra do Sol é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) localizada nos campos rupestres de altitude na Área de Preservação Ambiental (APA) Morro da Pedreira, na Serra do Cipó de Minas Gerais.

Próximo de mais de 50 sítios arqueológicos que evidenciam a ocupação humana mais antiga das Américas, o Parque Pedra do Sol nasceu para fomentar o desenvolvimento científico multidisciplinar, hospedando pesquisadores de todas as áreas do conhecimento.

A fim de preservar e propagar os registros arqueológicos dos povos originários de Pindorama — a Terra das Palmeiras, como os grupos ancestrais conheciam o Brasil antes da invasão europeia — o Parque Pedra do Sol desenvolveu diversas iniciativas voltadas à valorização desse patrimônio histórico.

Entre essas iniciativas, se destaca o projeto do Observatório Astronômico Seichú: o primeiro e único observatório de astronomia cultural do país.

Entenda a missão do Parque Arqueológico da Pedra do Sol

A missão do Parque Arqueológico da Pedra do Sol é promover a pesquisa e a educação sobre o patrimônio ambiental e cultural da Serra do Cipó, valorizando os sítios arqueológicos e os saberes das comunidades tradicionais, além de proteger as espécies endêmicas da fauna e da flora do cerrado mineiro.

Nossa paixão é conservar a biodiversidade e o patrimônio arqueológico a partir da educação de base social e comunitária, na intenção de despertar o interesse e a reconexão dos estudantes, acadêmicos, turistas e moradores da região de Santana do Riacho, com a ancestralidade dos povos originários nativo-brasileiros.

O Parque Pedra do Sol conecta a humanidade à natureza, respeitando e difundindo os saberes tradicionais, e salvaguardando o patrimônio cultural do Cerrado.

A visão do Parque Pedra do Sol

O Parque Arqueológico da Pedra do Sol visa se tornar uma referência nacional na pesquisa, preservação e educação sobre o patrimônio cultural e ambiental do Cerrado, promovendo uma conexão profunda entre a humanidade e a natureza.

Queremos inspirar a valorização dos saberes tradicionais e a sustentabilidade, contribuindo para o desenvolvimento socioambiental principalmente através das linhas de pesquisa da arqueologia e astronomia.

Os valores que guiam o Parque Pedra do Sol

Os valores garantem que projetos como o Parque Pedra do Sol se desenvolvam do jeito certo, crescendo em prol do bem comum, sem perder de vista as origens que o trouxeram à existência.

Dentre os nossos valores mais importantes, podemos citar:

  • O incentivo ao desenvolvimento socioambiental;
  • A preservação do patrimônio cultural e ambiental;
  • O compromisso com a educação e a sustentabilidade;
  • O respeito aos saberes e direitos das comunidades tradicionais;
  • E a inclusão social pela valorização da diversidade e do patrimônio cultural.

Como surgiu a Reserva Particular do Patrimônio Natural Kûarasy Itá?

Gustavo Villa, o fundador do Parque Arqueológico da Pedra do Sol e do Observatório Astronômico Seichú, adquiriu em 2010 uma área no Vau da Lagoa, em Santana do Riacho.

A região já era conhecida pela presença de sítios arqueológicos indígenas, mas o que Villa veio a descobrir e contribuir com a comunidade científica, foi uma curiosa formação rochosa: a Pedra do Sol.

A Pedra do Sol é um afloramento rochoso de quartzito, no qual a luz do Sol percorre uma fenda que o divide em dois, exatamente nas datas dos equinócios e solstícios.

O efeito visual causado por essa característica é admirável e foi certamente importante na marcação da passagem do tempo para os povos ancestrais que viveram nesta mesma área há mais de 8 mil anos.

Esse fato inusitado levou à outra descoberta: a de que o afloramento da Pedra do Sol apresenta pinturas rupestres na face oeste. Depois foi encontrado um belíssimo abrigo a 90 metros da formação, contendo um rico acervo de gravuras rupestres.

Ao final de 2012, foram localizados mais quatro sítios arqueológicos inéditos no Parque Pedra do Sol.

Através de programas de georreferenciamento, foi verificado que a localização de todos eles estava inserida em um eixo perfeito seguindo na direção leste-oeste.

A temática das pinturas revelou que o conjunto apresentava um inventário com características nitidamente relacionadas ao conhecimento astronômico dos povos antigos. Após uma década de pesquisas independentes, foi concluído que se tratava de um dos circuitos mais relevantes para o estudo da arqueoastronomia no Brasil.

Em 2021, surgiu a ideia de criar uma RPPN — uma Reserva Particular do Patrimônio Natural — para proteger esse acervo através da conscientização por meio de palestras e cursos no campo da arqueoastronomia.

O Parque Arqueológico da Pedra do Sol foi inaugurado no equinócio de outono do mesmo ano, com a proposta de proteger os bens culturais e naturais endêmicos do cerrado mineiro, uma vez que o espaço está localizado em um ambiente de campo rupestre: um ecossistema frágil cuja proteção se tornou prioridade para o projeto.

Histórico de pesquisas arqueológicas na Serra do Cipó

A Serra do Cipó é um dos complexos arqueológicos indígenas mais ricos de Minas Gerais: são dezenas de sítios com belíssimos painéis rupestres em meio a um conjunto paisagístico apelidado de “Jardim do Brasil” por Burle Marx.

A primeira informação sobre esses sítios arqueológicos foi registrada em um mapa resultante da expedição de dois portugueses: Antonio Jozé Fernandes e o Capitão-mor Miguel Luiz Filgueiras.

Eles percorreram os rios Parauninha e Cipó em 1747, deixando o seguinte relato sobre os registros da famosa Lapa da Sucupira:

“Nesta pedreira tão bem se achaõ vários caracteres como são as honças, viados, bugios, e varias cruzidades (SIC).”

Mais de 100 anos depois, em 1893, J. Reis passou pela mesma região ao empreender em uma viagem a serviço da linha telegráfica de Ouro Preto até Diamantina, e escreveu o seguinte:

No Riacho Fundo (Fazenda de Caxoeira entre os arraiaes de Congonhas do Norte e Taquarassú) constou-se existir não só uma pedra coberta de figuras de pássaros e animaes a várias córes, como também vestígios de habitações e uma gruta ou caverna (SIC).

Modo de vida ancestral registrado na Serra do Cipó

Desde a década de 1970, as escavações sucessivas trouxeram à tona dezenas de sepultamentos milenares, principalmente no Grande Abrigo de Santana do Riacho.

As pesquisas sistemáticas também revelaram muito sobre o modo de vida das populações que se estabeleceram nas proximidades dos cursos d’água da região há mais de 8 mil anos, especialmente nas margens dos rios Cipó e Parauninha.

No Vau da Lagoa, onde se encontra o Parque Arqueológico da Pedra do Sol, ainda não foram encontradas evidências de assentamentos humanos de grande porte. Esses núcleos são mais comuns no início das formações da serra, onde o clima era menos rigoroso e o relevo mais regular.

As altitudes elevadas do Vau serviram como um território estendido de caça, produzindo mais de duas dezenas de abrigos com registros de pinturas rupestres.

Ocupação humana nas áreas de altitude do Vau da Lagoa

Nas lapas da região existem painéis com representações zoomorfas em que predominam os cervídeos e peixes — os quais poderiam ter servido de alimento para os grupos que se aventuraram no alto da serra. 

Em uma lapa próxima ao Parque Pedra do Sol, há o registro de peixes associados à atividade de pesca. Já no Grande Abrigo de Santana do Riacho, foi escavado um fragmento ósseo interpretado como o anzol mais antigo das Américas.

Estes verdadeiros livros escritos nas rochas revelam informações que dialogam com os dados obtidos nas escavações.

As representações rupestres integram o estilo Planalto, no qual era comum ilustrar formas de animais com tintas vermelhas, amarelas e pretas. Também existem registros de pinturas feitas com crayon: um tipo de giz produzido a partir de resina de cera — um pigmento sólido.

Os mais de 30 painéis rupestres no Vau da Lagoa sugerem que houve ocupação humana sistemática no alto da Serra do Cipó, onde as populações humanas exploravam as áreas de altitude como território abrangente de caça, coleta e pesca.

Lugares feito esse também eram valorizados por oferecer as condições ideias para a observação celeste devido à visão panorâmica no alto da Serra do Espinhaço.

Astronomia, cultura e cosmologia

Aos poucos, o fascínio pelo desconhecido se transformou em um conhecimento genuíno dos movimentos do céu — algo que fica evidente nos sítios arqueológicos alinhados no eixo leste-oeste.

Ao longo dos séculos, as observações astronômicas acabaram se tornando uma ferramenta fundamental para a sustentabilidade dessas populações porque a compreensão dos padrões sazonais oferecia um elemento de previsibilidade para as atividades dos caçadores-coletores e, mais tarde, para as sociedades de agricultores.

Entre os afazeres cotidianos das comunidades nas proximidades do Rio Parauninha, na Lapa da Sucupira, há indícios de grupos especializados em observações astronômicas.

Pelas condições favoráveis de observação do horizonte, tais grupos investiam boa parte do tempo registrando eventos celestes no alto da serra.

As pesquisas do Parque Arqueológico da Pedra do Sol caminham no sentido de elucidar esse aspecto fascinante que por diversas vezes é subestimado ou incompreendido pela maioria dos arqueólogos em virtude da falta de especialização na metodologia astronômica.

Contando com uma equipe diversificada de profissionais e voluntários, a RPPN Kûarasy Itá — que significa “Pedra do Sol” em tupi antigo — propõe uma metodologia transdisciplinar a fim de compreender o modo de vida das populações originárias, bem como os registros arqueológicos nas lapas da Serra do Cipó.

Saiba mais sobre o Parque Pedra do Sol…